terça-feira, 2 de abril de 2013

Olhos que veem são muitos. Olhos que enxergam são raros.







O mundo gira, sol nascendo, o tic-tac do relógio é um aviso de que estou atrasada, corro, ouço tantos sons que quase não consigo identificar o que significam. Buzinas, passos, vozes, é tudo tão ligeiro que não paro para observar a realidade ao meu redor. Subo no ônibus e através das janelas vejo o corre-corre preenchendo as avenidas.Chego ao meu destino. O terceiro andar de um prédio antigo no centro da cidade, lá atendo telefonas, envio e-mails, resolvo problemas. Todos os dias a mesma rotina, as mesmas pessoas, o mesmo caminho.
Um dia chegando ao meu local de trabalho percebo um burburinho na entrada do prédio e noto que algo estranho aconteceu. Aproximando-me pergunto as pessoas que ali estão: - O que houve? Os olhares tristes e desconfortáveis me permitem imaginar o ocorrido, então um dos meus colegas diz que o porteiro faleceu. Porteiro? Fiquei espantada ao perceber que eu não lembrava dele. Não sabia seu nome, como era seu rosto, só sabia que havia alguém ali, mas não reparava em como se vestia, como falava, era para mim um estranho conhecido. Foi nesse momento que meus olhos se abriram para enxergar muito mais além do marasmo.
E quantos de nós passamos a vida inteira sem perceber aquilo que nossos olhos veem, observar detalhes simples como o sorriso das pessoas, os prédios do nosso centro, um gari que limpa a rua. A rotina muitas vezes cega deixa nossa visão superficial e nos trai roubando de nós as experiências que poderíamos viver se observássemos mais o que nos circunda. Depois desse dia, ao saber da morte do porteiro passei a observar o mundo com olhos de criança descobrindo tudo a minha volta, e enxerguei detalhes que nunca antes imaginei encontrar. E como escreveu a professora poeta Ana Valeska “Nosso olhar perde a nitidez, passa a captar o que está programado pelas prioridades adultocêntricas.”
Observar às ruas, as pessoas, a cidade é muito mais do que flanar, é experimentar cada uma das histórias que estão a nossa frente, passamos tanto tempo procurando explicar o inexplicável que nos esquecemos de viver, amar, ouvir, enxergar. Encontrar o valor do simples, do óbvio é muito mais difícil que imaginamos como dizia Exupéry “O essencial é invisível aos olhos, mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração”. E todas as crônicas reporteiras de João do Rio não seriam tão intensas se ele não tivesse vivido seus textos, e observado cada partícula das ruas por onde caminhava.
Mas o que quero deixar através da minha breve experiência é um olhar a vida com olhos de começo, nos aprofundarmos na beleza do que também não é visto.  

7 comentários:

  1. Olhos de (re)começos são sempre necessários ,a vida é essa grandeza só.O melhor da vida passa e passa rápido.

    amei esse texto!

    lindeza e tu!

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    1. Falou tudo Samara, e agradeço muitissimo seus comentários :D

      Bjão minha linda!

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  2. Minha querida Hadassa, estou super feliz com teu blog, você leva jeito pra escrita, viva intensamente seus processos, sempre com olhos de começo. Estarei sempre por aqui. Cheiro enorme!

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    1. Ouww Profa Linda, ficou mega feliz de saber que estarás sempre aqui! E agradeço por todas as inspirações que você me concede.

      Beijo enorme!!!

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  3. Super orgulhosa! Escreves como ninguém.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Obrigada Mana, ainda estou longe de escrever como quero mas eu tento!
      Bjs

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